Poemas em nome próprio
De renomes idos
Sentimentos lidos
Declamações mudas
Janelas de perspectiva infinda
Um diário livre


sábado, 31 de março de 2012

Mallarmè revisitado

Um hiato no tempo incessante do verso
Um espasmo emotivo dentro da palavra
Um instante poético hirto a consoantes
Uma cesura em redondeza ao vazio

Lance mero de dados
Chuva esparsa fina a tarde
Rastros na areia entre passos indecisos
Ávida poeira por cair verdades

Fragmentos de uma vida desabrida
Corporeidades museais contemporâneas
Existência terna musical e fugidia
Sentimentos prenhes de abismo

Seria Acaso Poesia

terça-feira, 27 de março de 2012

Vem

Vem
          do céu
                  do mar
                          do chão

Vem
de onde quer
que seja e
           seja forte
                   leve
                          a morte

Vem
         teus olhos
                  tuas bocas
                          tuas mãos

Quando
onde quer que tanto
         não importe
                  em parte
                          em pranto e

Onde quer
         que vá
                  que vá

deitar comigo
          no céu
                   no mar
                           no chão

sexta-feira, 23 de março de 2012


Há exatos quatro anos, tive o privilégio de participar do "I Letras em Lisboa" (encontro que reuniu poetas e estudiosos da literatura lusófona de todo o mundo) e declamar poemas de Fernando Pessoa no Teatro São Luiz, ao final da mesa dedicada ao poeta. A casa onde ele nasceu fica exatamente em frente ao teatro.

O guardador de rebanhos 

    II

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparesse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

(Alberto Caeiro)


quinta-feira, 22 de março de 2012

Há certas pessoas
muitas, quão mais precioso se tornar viver
que fazem com que nós sejamos mais
nós mesmos


domingo, 18 de março de 2012

um emblema do século xx

(Drummond)


No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.
 

sexta-feira, 2 de março de 2012

nada mais



Nada há
mais infinito
e inesgotável
do que percorrer um corpo

Nada mais intenso
do que em segredo
desvelar-se noutro

Atrás daquela curva um rio
neste canto fogo

Doce desafio
apagar com chamas mais
o refulgir do cio

E tudo é só depois
incenso no altar do gozo
um suave olor de corpos-alma celebrados
a sublime solidão compartilhada
nada mais 

quinta-feira, 1 de março de 2012


Fernando Pessoa


"O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma"