Poemas em nome próprio
De renomes idos
Sentimentos lidos
Declamações mudas
Janelas de perspectiva infinda
Um diário livre


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

paisagem

a presença de um corpo
bem deitado ao lado
intimado convivido revirado
paisagem onde
entre
vales rios montes
devagar a mão
passeia finalmente
em paz

o universo extenso extenuado
a geografia viva delirante
e o olhar contempla
encantado
o infinito espaço
desejado
e o desejo satisfeito.

sábado, 23 de julho de 2016

A palavra
proferida é
preferida 
de quem
versa e
de todo o
verbo que
interno à mente
sente
sem pesar
até que
livre 
desprendida
à frente
do papel 
então se rende 
de repente à pena
e se suspende
apenas
levemente
apesar.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

vazamento

e vai gemendo
a caixa acoplada
um só lamento triste
insistente, rumoroso
privada que é
de todo amor

quarta-feira, 1 de abril de 2015

"Todo estado de alma é uma paisagem"

Nas várias vezes em que li ou me lembrei deste apontamento solto do Fernando Pessoa, eu o pensei também de um modo diferente. O sentido original é único e bastante coerente: qualquer estado de espírito pode ser representado por uma sugestão de paisagem, à qual atribuímos certo valor coletivamente consagrado. Uma condição triste remete a uma paisagem outonal chuvosa, o encontro amoroso a uma tarde luminosa e serena junto à praia. O artista deveria, ao representar qualquer realidade, fundir as duas paisagens numa espécie de intersecção existencial.

Penso nela divertidamente, com a conivência do Pessoa dos desassossegos. É a alma que define, primeiramente, toda paisagem! É a alma que a condiciona, a liberta ou aprisiona... seja a dos sentimentos internos, seja a dos sentidos exteriores. A contemplação de qualquer paisagem é matizada pela condição da alma naquele momento. A alegria colore o horizonte cinza, a angústia embaça a tarde de sol na sensação. Imagine um homem angustiado a caminhar pelo sertão luminoso e ele terá a predição de chuva forte que se avizinha. O ambiente poderá temperar a sua ansiedade, aliviar a nuvem de um vento frio inexistente, mas primeira é toda a vida, interna-externa, a padecer daquela. 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014


A cidade obscurece em luzes
nada é mais lento que a verdade
meu olhar perfura a noite sem rumores
tudo é tão claro como a paz.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Nunca troque o sol brando e perene da amizade
pela fogueirinha urgente e avassaladora do desejo.
A não ser que queira, e acredite que possa,
transformá-la em um astro intempestivo.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O galo

O galo canta uma, duas, três
estando longe do sertão
que é onde os galos cantam
madrugada adentro
sem razão maior que a canção.

E por quê que me desperta
se ainda é tudo escuridão?

No sertão, o mar virado
revirado remexido
ondeia azul por entre a alta
espuma branca viajante
bem de longe aguada
irrefreável à areia, aerada
que trazendo-a espelhada
se insinua em ventanias e
esculturas de revolução.

E é por isso que vizinho ao mar
o galo canta em noite calmaria
não duela com murmúrios grandes
horizontes de imensidão.

Pois agora chove manso e finda o pranto
não se ouve mais a vastidão do canto
que se houve iluminá-lo da manhã.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Grande Sertão: Veredas

A cada novo romance que leio, se agiganta mais Grande sertão: veredas. Lá se vão dez anos dessa leitura, dessa verdadeira lida, e tenho a impressão de que não haverá obra maior em minha vida. E olha que tenho escolhido muito bem as minhas companhias... Um épico da língua, reinventada, renascida, uma das mais belas histórias de amor já escritas. Salve Guimarães!



sexta-feira, 25 de abril de 2014

Como livros na estante
há cavidades de minh'alma
eu sei
que só reclamam
ser tocadas
versos esquecidos
nunca ditos
abismos de silêncio
sentimentos invasivos