Nas várias vezes em
que li ou me lembrei deste apontamento solto do Fernando Pessoa, eu o pensei também de um modo diferente. O sentido original é único e bastante coerente: qualquer estado de espírito
pode ser representado por uma sugestão de paisagem, à qual atribuímos certo
valor coletivamente consagrado. Uma condição triste remete a uma paisagem outonal chuvosa, o
encontro amoroso a uma tarde luminosa e serena junto à praia. O artista deveria, ao representar qualquer realidade, fundir as duas paisagens numa espécie de intersecção existencial.
Penso nela divertidamente, com a conivência do Pessoa dos desassossegos. É a alma que define, primeiramente, toda paisagem! É a alma que a condiciona, a liberta ou aprisiona... seja a dos sentimentos
internos, seja a dos sentidos exteriores. A contemplação de qualquer paisagem é matizada pela condição da alma naquele momento. A alegria colore o
horizonte cinza, a angústia embaça a tarde de sol na sensação. Imagine um
homem angustiado a caminhar pelo sertão luminoso e ele terá a predição de chuva forte
que se avizinha. O ambiente poderá temperar a sua ansiedade, aliviar a nuvem de um vento frio inexistente, mas primeira é toda a vida, interna-externa, a padecer daquela.
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