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domingo, 26 de agosto de 2012

herança esportiva


Das heranças que tive, acho que a maior de todas foi a esportiva. Poderiam me perguntar sobre aquela dos princípios, do caráter, da moral... e eu responderia que as tive também. Mas é que, no esporte, todas essas podem ser reaprendidas, amplificadas, repensadas. Um dia, eu me dirigi assim a ele: “Pai, quero te agradecer solenemente pela herança esportiva que o senhor nos deu, a mim e a meu irmão”. E ele chorou ao ouvir isso, imediatamente comovido e realizado, como homem e como pai. Sempre foi um grande atleta, em vários esportes. Conquistou mais troféus e medalhas do que eu e meu irmão juntos. Isso aconteceu há uns dois anos e volta e meia ele me recorda o dito, por querer reviver. Chorou por que sabe, melhor do que ninguém, a gratidão do reconhecimento e o significado preciso, concreto e incalculável, que o esporte proporciona a uma vida.

Há muitos tipos de alegria, e muitas delas semelhantes. Há muitos tipos de alegrias, e muitas delas inconfundíveis. A do esporte é uma destas. Experimenta-se, por exemplo, no amor, na paixão, alegrias que não podem ser comparadas – porque nós as sentimos únicas. E no esporte é também assim. Quem pratica, sabe. Quem acompanhou as olimpíadas também pôde perceber isso, nos pontos decisivos, nas vitórias apertadas ou incontestáveis. Só quem vive isso sabe a sensação e a verdade únicas, “incontidas”  em um grito espontâneo de vitória. Mas não são apenas vitórias. E o esporte pode ensinar também a perder, a lidar com as frustrações, mas persistir no aprimoramento, a conviver com a dor e a saber, pacientemente, que ela passa; ensina relutar a desistir, a enfrentar os medos, a dedicar-se. Proporciona um grande prazer ao corpo e um enorme proveito ao espírito, o de poder ensinar também a conviver consigo mesmo, a ponto de saber gozar o “estar sozinho”, nos treinos ou nas renúncias, ou a entregar-se totalmente na congregação de gentes várias, que ainda podem se tornar amigas.

Escrevo essa pequena crônica por meu pai e por dois dias seguidos. Ontem, acordei de manhã e pedalei após ter tido um início chato de manhã. Voltei revigorado, como quem reacordasse para o dia. Hoje, surfei com pessoas incríveis, que fazem do esporte um modo muito bonito e generoso de viver. 

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