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quinta-feira, 28 de abril de 2011

arquitetura

(a Edgar Graeff)


Em frente à minha janela, confidente silenciosa,
vejo noutra luz uma imagem habitual.   
Especialmente hoje, meus olhos a descobrem
como se nascesse um novo dia,
dentro dos dias, além da minha janela.

Dividem a serenidade dos meus olhos
um céu azul de nuvens poucas,
uma sibipiruna de flores amarelas em direção ao mesmo céu,
e a parede branca e distante de um edifício.
Penso: não fosse a parede branca,
o céu azul seria maior em meu quadro. Não fosse...

... mas é
e a parede branca, hoje eu sinto,
é janela de um outro céu que o homem faz crescer.
E não fosse a parede branca e seu reflexo de sol
e sua existência em mim,
o quadro em que vejo tudo isso não me seria possível.

Pois a janela de onde vejo esse quadro,
com esse limitado céu azul,
só é possível na parede branca cá do céu.
E se, na parede que vejo, alguém de lá me visse,
veria outra parede branca e uma janela,
uma sibiruna no meio e um céu lá em cima
e flores amarelas que nem sabem disso,
e que nesta manhã de primavera
se dirigem ao céu me levando junto.

Sinto que de paredes, céus e flores e
quadros de flores, céus e nuvens se constrói
uma outra natureza; mesmo que as paredes
diminuam a visão dos céus e das sibipirunas,
contanto que seja possível a felicidade
de ainda serem vistos céus e sibipirunas que floresçam.

Sinto que este é um dever dos homens
que erguem paredes brancas:
abraçar quadros e homens e vida em comunhão
com os céus e as flores amarelas das sibipirunas.

Continuo a sentir
onde não mais estou sozinho.

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